domingo, 2 de novembro de 2014

Guiné-Bissau, basta de decisões eleitoralistas e populistas!


Editorial de Dr. António Nhaga
no Odemocrata hoje
A forma encontrada pelo governo de Domingos Simões Pereira para resolver, nos Media, a situação do alegado roubo de “90 cabeças de gado bovino” a mão armada nos Sectores de Cantchungo e de Caió, entre os meses de Setembro e Outubro de 2014, tem, para os especialistas em Ciências de Comunicação, um fundo de populismo eleitoral que neutraliza a própria estratégia do executivo de Comunicação na Administração Pública.
 
Em qualquer tabanca da Guiné-Bissau o roubo é condenável. E é certo que os autores de qualquer roubo devem ser punidos exemplarmente nas instâncias judiciais do nosso país. Portanto, estamos todos de acordo que, a ser verdade, os autores do roubo dos “90 cabeças de gado bovino” nas Tabancas de Cadjuguete, Tame, Batucar, Pandim, Cachobar, Uteacor, Bara, Chulame e Pindingulo, devem ser punidos exemplarmente nas nossas instâncias judiciais. Não nos Media, com um autêntico aparato de Guarda Nacional e de Polícia de Ordem Pública rodeados de um “batalhão” de jornalistas para testemunhar em tempo real o “Show Man” de uma operação de populismo eleitoral para mostrar aos eleitores da região o serviço prestado pelos seus eleitos.

A decisão populista e eleitoralista sem mandato de busca do Ministério Público detentor da Acção Penal que deve autorizar a execução de qualquer busca e revista, pode abrir um precedente perigoso na justiça. O governo de Domingos Simões Pereira tem advogado a justiça como meio para a estabilização do nosso país. Se o governo quer na realidade orientar a sociedade com base nas leis, deve evitar decisões de natureza populista e eleitoralista. Deve basear todas as suas decisões nas leis que existem no nosso país.

Esta decisão populista e eleitoralista do governo de Domingos Simões Pereira abriu um precedente perigosíssimo. Se amanhã houver um roubo de um camião de gado no Leste ou em Tombali, o governo não deve hesitar também em disponibilizar viaturas, combustível, motorizadas, bicicletas para o combate aos malfeitores que fustigam a nossa estabilidade social e nos tiram diariamente o sono. Aliás, a logística disponibilizada agora para esta operação de recuperação de “90 cabeças de gado bovino” nos Sectores de Cantchungo e de Caió é uma prova que afinal o governo já está em condições de disponilizar as viaturas para os investigadores do Ministério Público ou FISCAP que precisam de meios e combustíveis para combater ladrões de peixe nos nossos mares.

As outras regiões esperam, não só do roubo de gado, mas também que o governo de Domingos Simões Pereira resolva os seus problemas como pretende resolver o de roubo de gado na região de Cacheu. Porque se Cacheu defronta-se com o fenómeno de roubo de gado, as outras regiões têm também fenómenos candentes que devem ter uma solução semelhante ao do roubo do gado naquela parte nortenha do país.

Na verdade, todos estamos de acordo e condenamos quaisquer espécies de roubo, mesmo de uma agulhazinha em casa do nosso vizinho. Mas, também estamos de acordo que a nossa sociedade deve ser regida por leis que criamos. Portanto, os julgamentos não devem ser feitos pelos parlamentares, nem pelos jornalistas.

A situação de roubo de “90 cabeças de gado bovino” nos Sectores de Cantchungo e de Caió tem todos estes ingredientes, que podem levar a própria decisão assumir um carácter étnico e tribal, o que é perigoso nas sociedades democraticamente frágeis em que as pessoas são mais fortes que as instituições.

Multiplicações de magazines nos Media, em particular, nas Rádios na disseminação de uma decisão populista e eleitoralista do governo sem ter em consideração os seus efeitos nos Media, prova mais uma vez que na realidade este governo de Domingos Simões Pereira não tem ainda uma estratégia nacional de Comunicação para o Desenvolvimento.

4 comentários :

  1. Bem dito, é so + uma forma de criar contestaçoes na ns sociedade pois, aminha regiao também esta na espera do mesmo

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  2. É um problema complexo, este o dos ladrões. Compreende-se que não é natural e muito menos lógico, ver pessoas armados com armas que deveriam estar nos quarteis ou nas mãos seguras - a assaltar, a roubar as populações. Este problema dos ladrões, que não sejam aqueles dos gabinetes -estes bem mais perigosos- não é difícil de resolver; é de caris social e cultural.

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  3. Quem crítica porque não adianta soluções para o problema, sim, é muito fácil críticar. Porque não vai para o governo para mostrar o que sabe?

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  4. POR QUE CAIU O BOTCHE CANDÉ?
    ESMAGADO PELO PILAR 111
    A história que conduziu ao pedido de demissão do ministro da Administração Interna da Guiné-Bissau, Botche Candé, podia ter um título: "esmagado pelo pilar 111".
    Há pouco tempo, o Presidente da República, José Mário Vaz, foi alertado pela presença sistemática, na zona de fronteira - pilar 111, de rebeldes do MFDC. Enquanto comandante-chefe das forças armadas, JOMAV convocou o CEMGFA Biague Na Ntam e passou-lhe a informação. Este mandou averiguar, mas nada se apurou (ou talvez se tenha apurado e preparava-se uma operação idêntica à levada a cabo pelo ex-CEMGFA Tagme na Waie).
    Até que Botche Candé se insurgiu, insistindo que sim, que "havia rebeldes nessa área" e que podia prová-lo. Primeiro erro: não é a todos os sítios que se vai e se leva a imprensa atrás. Botché foi de facto, levou um batalhão de jornalistas e, pasme-se, deu de caras e viu-se até rodeado de um grupo de indisciplinados rebeldes armados com AK 47 e RPG-7!
    Segundo erro: Então, por que razão, sendo rebeldes e encontrando-se no nosso território, o ministro da Administração Interna, não deu/mandou dar ordem de prisão ao grupo que trava uma luta armada contra um regime legal e com a qual a Guiné-Bissau tem fronteiras e relações diplomáticas? Mistério.
    Ou seja, houve outro erro, o terceiro, o chamado pecado capital: uma fonte garantiu que "existe a sensação" de que a operação em que Botche Cande se envolveu "foi mal preparada e fez mais estragos para a imagem do país do que os beneficios pretendidos." Ou seja, diplomaticamente, foi como que um tiro no próprio pé.
    JOMAV 'desrespeitado'
    Quem não gostou mesmo nada do modus facendi do agora ex-ministro Botche Cande foi o Presidente da República José Mário Vaz. "Embora tenha compreendido a motivação, sentiu se um pouco desrespeitado enquanto Comandante em Chefe das Forcas Armadas", disse a fonte do que. Jomav não gostou e foi aos arames. "Ou Botche, ou nada mais importará", terá dito um presidente furioso - e com razão.
    O caldo entornar-se-ia na reunião de hoje do Conselho Superior de Defesa. Logo a seguir à reunião houve uma concertação restrita, quase rápida, entre o Presidente da República, o Presidente da ANP e o Governo. O destino de Botche ficou traçado: demita-se o minsitro. Botche Candé pede a demissão a contragosto.
    Agora os guineenses podem questionar-se: mas pode o PR exonerar um ministro sem aval do primeiro-ministro? Poder, pode, mas geralmente procura o consenso com o chefe do Governo. Até porque para nomear o subsituto, tem que haver consenso entre os dois: um propõe e outro nomeia

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COMENTÁRIOS
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